Nessa fase em que vivemos, de tecnologia cada vez mais avançada, com discussões frequentes em programas de televisão, sobre o futuro do livro e do jornal em papel, é interessante notar o vigor dos sebos. É como se eles nos dissessem que o passado continua vivo no presente e não pode ser descartado por tudo que representa.
Eles são a maior prova de que, por mais que novos computadores e tablets surjam, sempre haverá espaço para livros, revistas, jornais, discos em vinil, DVDs e CDs. Não devemos encarar o tempo de forma linear. Ele avança e recua, num movimento surpreendente que nos enreda cada vez mais.
Quando criança, ia muito com o meu pai a livrarias e a sebos. O primeiro que conheci foi o Gazeau, no centro de São Paulo, com milhares de livros e revistas usados, a preços variados. Alguns custavam uma ninharia, outros, por serem raros, primeira edição, uma fortuna.
Anos mais tarde, conheci um outro sebo, o Messias, fundado em 1970 e hoje um dos mais conhecidos de São Paulo. Semana passada, ao ler sobre a morte da escritora húngara Agota Kristof, procurei obras dela em diversos sites de livrarias . Estavam esgotadas em todas. Aí, como último recurso, eu me lembrei do site www.sebodomessias.com.br. E foi lá que encontrei o seu livro “A Prova”. Fiz o pedido na hora.
Há vários sebos hoje que vendem pela loja virtual livros, revistas, gibis, discos em vinil, DVDs, CDs. O interessante é que há uma descrição do estado de cada produto: “A presente obra encontra-se em ótimo estado de conservação, tanto da capa, quanto do conteúdo. Apenas apresenta algumas manchas amareladas causadas pelo tempo”. Como escapar do tempo? Ele deixa a sua marca nos livros, nos móveis, nos imóveis e em nós. Outra observação: “Esta bela obra, embora encadernada, mantém sua capa original. Não constam marcações à caneta ou páginas rasgadas, a obra apresenta perfeito estado de conservação”.
Quando o livro está esgotado, aparece a observação “Indisponível. Avise-me quando estiver disponível”. Há um local para clicar e colocar o e-mail. Por mais que imaginemos que o livro de edição antiga nunca voltará à estante virtual, é possível que volte, porque frequentador de sebo costuma comprar, ler e trocar o livro lido por um outro do seu interesse.
Tem gente que se recusa a ler livro usado. Besteira. Os livros usados trazem um pouco da história dos seus leitores. Não me importo de comprar livros em sebo com anotações. Gosto também de ler livros e deparar com comentários que o meu pai fez neles há quinze, vinte anos ou mais. O leitor, interagindo com o livro, nos proporciona uma segunda leitura e faz com que nos atentemos a alguns trechos que podem passar despercebidos.
